Afastamento de Membros da Igreja

Categoria: Direito Eclesiástico
Afastamento de Membros da Igreja

A | Introdução

O afastamento de membros da igreja é um tema sensível e que exige extremo cuidado por parte das lideranças e gestores eclesiásticos. Apesar da autonomia assegurada pelo artigo 44, §1º do Código Civil, que garante às instituições religiosas liberdade para organizar suas próprias regras, essa independência não é absoluta.

A Justiça tem entendido que qualquer procedimento de exclusão de membros precisa observar princípios constitucionais, como o contraditório e a ampla defesa. Caso contrário, a decisão pode ser considerada nula, trazendo sérias consequências para a instituição.

B | Contexto Jurídico e Fundamentação

A legislação brasileira permite que as igrejas, por meio de seus estatutos e regimentos internos, estabeleçam os critérios de ingresso, permanência e desligamento de seus membros. Contudo, tais normas internas precisam respeitar direitos e garantias fundamentais.

Em recente decisão, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), no processo 5268043-29.2022.8.09.0128, determinou a anulação do afastamento de um membro da Igreja Assembleia de Deus Sheknah, em razão da ausência de provas de que o procedimento interno havia sido conduzido de forma regular e transparente.

O tribunal reforçou que:

“A exclusão de membro, sem que lhe seja garantida a oportunidade de defesa, viola os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.”

Além disso, outras cortes têm decidido no mesmo sentido, ressaltando que a autonomia religiosa não pode servir como escudo para práticas arbitrárias.

C | Impactos para as Igrejas e Boas Práticas

A anulação de um afastamento pode gerar sérios riscos jurídicos e financeiros para a instituição religiosa, tais como:

·       Reintegração do membro excluído;

·       Indenizações por danos morais;

·       Ações judiciais por abuso de poder;

·       Desgaste institucional e perda de credibilidade.

Como evitar problemas?

1.      Revisão do Estatuto e Regimento Interno
Certifique-se de que as regras sobre ingresso e afastamento estejam claramente definidas e estejam atualizadas.

2.      Processo Administrativo Disciplinar (PAD)
É imprescindível instaurar um PAD que garanta ampla defesa e contraditório ao membro envolvido.

3.      Registro e Transparência
Documente todas as etapas do processo, registrando notificações, prazos e decisões em atas.

4.      Assessoria Jurídica Especializada
Contar com orientação jurídica é fundamental para evitar nulidades e proteger a igreja contra futuras ações.

D | Conclusão

O afastamento de membros de uma igreja é uma medida extrema e deve ser tomada com base em regras claras e processos formais. A autonomia religiosa garante liberdade, mas não autoriza práticas que violem direitos fundamentais.

Ao adotar procedimentos transparentes e respeitar as garantias constitucionais, a igreja protege não apenas sua integridade jurídica, mas também a credibilidade da sua missão.

 

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