Family office - gestão de fortunas familiares

Categoria: Negócios
Family office - gestão de fortunas familiares

                O termo inglês family office define os administradores de recursos financeiros dos donos de empresas e de seus herdeiros. No fim do século XIX, famílias bastante ricas e tradicionais como às dos clãs Carnegie, Rockefeller e Pew , adaptaram o formato de administração de recursos usado pelos bancos europeus para gerir suas fortunas.

                Com o passar do tempo, dilataram o serviço para outras grandes famílias americanas.

                Nos EUA este instituto está bem aprimorado, calcula-se que os family offices gerenciam um patrimônio da ordem de 20 trilhões de dólares, enquanto no Brasil estima-se que as mais de 40 family offices em operação administrem um patrimônio em torno de 200 bilhões de reais.

                O crescimento no Brasil é veloz, já que pouco mais de 10 anos atrás não tinha sequer 10 instituições nestes moldes. Pode-se falar, inclusive, que o número de abastados no Brasil tem aumentado graças ao constante e promissor crescimento da economia brasileira.

                Se, por um lado, o cenário atual é favorável, por outro, nosso país é também um dos que tem a maior volatilidade econômico-social. Portanto, são muito comuns histórias de famílias que conseguem chegar a um bem-sucedido patamar financeiro, mas que, com o passar dos anos, não conseguem formar sucessores dentro do âmbito familiar e fazer com que o legado perpetue-se. Nesse último século (devido a tantas turbulências, planos e crises), de cada uma centena de fortunas familiares, menos de duas dezenas permaneceram sob a chancela de suas famílias.

                Temos como pátrio e próspero exemplo de sucesso alcançado de geração em geração pelas famílias de Ermírio de Moraes, João Gerdau e Roberto Marinho. Entretanto não é comum se notar tamanho sucesso quando se fala de fortunas transmitidas de geração para geração. Existe até ditados populares que mencionam exatamente o contrário.

                E é nesse sentido que se pode pensar em criar a chamada family office já que tem o cunho de se separar os negócios empresariais dos negócios da família, propriamente dito. Ou seja, o processo tradicionalmente inicia com o anseio de se definir controles contábeis e gerenciais dos inúmeros e distintos membros da família de forma individual e/ou integrada visando um planejamento tributário. Neste momento, todos os serviços tendem a ser terceirizados. Usualmente são utilizadas as equipes operacionais das próprias empresas.

                Dessa forma, pode-se afirmar, segundo o professor René Werner que “family office é a estrutura de uma ou mais famílias definidas para administrar os ativos tangíveis e intangíveis que não fazem parte da operação.” (informação verbal)

                Vale dizer que um combinado de serviços organizados numa espécie de private trust company que, no Brasil, substituiríamos por instituição privada de administração fiduciária, instituída para famílias endinheiradas, com patrimônio global acima de algumas unidades de milhões de dólares, com aplicações financeiras de ao menos um milhão de dólares, e com administradores por elas escolhidos para gerir suas riquezas.

                Além de um ‘banco particular da família’, o family office funciona basicamente como administrador de: (i) planejamento de patrimônio/herança, (ii) doações de ações e outras transações dentro da família, e (iii) pagamento de impostos e seguros de grupo. Com o planejamento financeiro centralizado permite que a família possa investir sua riqueza como grupo, alavancando, assim, seu poder de permuta e de aquisição, além de outros benefícios.

                Afora os serviços financeiros, o family office pode proporcionar serviços de aconselhamento; consultoria; coaching dos membros da família com relação a estruturação e consolidação da missão da família; planejamento da sucessão; aposentadoria e possibilidade de novas carreiras para os mais senis; filantropia e estabelecimento de fundações, entre outros.

                Vale destacar que as empresas familiares devem ser tratadas com profissionalismo. O preparo dos jovens é uma razão basilar para se constituir family office, e através disso os mais anciãos terão oportunidade de transferir experiências aos mais jovens.

                Para se instituir um family office é imperioso inquirir o que a família almeja e o que quer alcançar, ou melhor, é necessário desvendar a missão da família e consolidar os valores. Em seguida deve-se estruturar o processo administrativo através de seleção de membros da família para atuar ou supervisionar o family office; contratar profissionais adequados (familiares ou não); e definir níveis tecnológicos do processo.

                Lembrando que orçar adequadamente os serviços é elemento essencial da primeira fase da instituição do family office. Os honorários devem prover o pagamento da equipe e de todos os serviços internos e externos. A composição do grupo geralmente conta com advogados, contabilistas, administradores/investidores profissionais e consultores de famílias.

                Sintetizando, o escritório da família é criado por muitas razões, dentre elas separar o sentido de continuidade da família dos aspectos ligados aos negócios empresariais; tais negócios devem ser vistos como instrumentos de agregação e continuidade da família, independentemente dos aspectos técnicos e gerenciais dos negócios empresariais que possuam.

                Importante ressalvar que os desígnios mais habituais do family office comumente envolvem dimensões financeiras, as quais podem ser de crescimento ou ainda preservação patrimonial; os objetivos podem ser focados na família em si, visando alocar talentos nas posições mais apropriadas, treiná-los, acompanhá-los por meio de especialistas, na caridade, na felicidade de seus membros, etc.

                Cada família que deseje se estabelecer deste modo formal deve decidir antecipadamente sua tática principal e seus basilares alvos de curto, médio e longo prazo.

                Tem-se como parâmetro básico montar um family office conforme o tamanho dos ativos que são gerenciados pela família e suas naturezas; o patrimônio líquido é também um importante indicador. Precisa ter uma extensão tal, que a relação custo-benefício seja proveitosa, isto é tenha retorno positivo financeiro, organizacional e motivacional sobre as pessoas abarcadas da família.

                Para se montar um family office é indispensável,em um primeiro momento, que haja vontade dos detentores do poder para se dar seguimento a etapa seguinte.

                Havendo essa vontade, uma investigação sobre os ativos e passivos da família definirão a viabilidade de se desenhar o ‘escritório’, e quais dimensões ele terá (simplificado, intermediário ou definitivo). Normalmente deve ser enxuto, contudo funcional.

                Existindo vontade e viabilidade, é preciso dar formatação jurídica e organizacional para iniciá-lo. Passo seguinte é cuidar das táticas e do operacional de todas as áreas envolvidas.

                O resultado da operação de um family office traz alguns pontos positivos e outros negativos.

                Observemos, a título exemplificativo, algumas vantagens obtidas:

 

                Confidencialidade dos serviços prestados para a família, exercido por um funcionário exclusivo do family office; e Serviço personalizado.

                Como desvantagens, podemos citar que:

- Os profissionais ficam muito limitados a uma só família; e

-Criação de uma massa crítica.

-Podemos, ainda, citar alguns pontos críticos, os quais não dependem diretamente apenas da boa administração, mas que devem ser considerados:

-Representatividade familiar que é capaz de atingir;

-Delimitação quanto à entrada e saída de familiares, tanto ao business quanto ao family office;

-Relacionamento entre os cônjuges;

-Estrutura Patrimonial da empresa; e

-Política de riscos e de investimentos no âmbito empresarial.

                Neste sentido, pode-se ultimar, que o family office, quando bem-utilizado, livre dos fatores negativos e longe dos efeitos dos pontos críticos, atingindo assim os fins e objetivos da sua instituição, pode ser um excelente guia para a família, já que torna-se cristalino os desígnios perseguidos, traz uma respeitável visão de futuro, assegura a perpetuidade da família e do seu empreendimento empresarial, além de ser um excelente fórum para obtenção de respostas, tanto jurídicas quanto relativas ao relacionamento familiar.

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